Por que uma mulher plus size ser finalista do Miss Peru é tão empoderador
Lembro direitinho das reações que Vanessa Braga causou ao cruzar a passarela de biquíni como candidata a Garota Verão de Canguçu, no início do ano passado. Entre as (ainda bem) muitas pessoas que apoiaram a atitude da guria, então com 14 anos – que, afinal, só queria desfilar e, talvez, representar sua cidade -, muita, mas muita gente destilou comentários maldosos, que nem cabe repetir aqui, mas que vocês já devem imaginar. Quando o Dimi, colega aqui da redação de Donna, me mostrou a notícia que vocês já espiaram ali no título do post. recordei imediatamente do caso de Vanessa. Mas, dessa vez, com um quase final feliz. Não que a história de Vanessa não tenha rendido frutos: ela, uma garota cheia de amor próprio, deu uma lição de autoestima que vocês podem relembrar nessa matéria aqui, e encheu muita gente de orgulho (eu inclusa nessa lista!). Agora, porém, essa moçoila de 19 anos tem chances de ir mais longe: ela pode ser a primeira plus size a levar a coroa de Miss Peru.
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Representante da região de Lima, Mirella Paz Baylón está entre as 10 finalistas do concurso de beleza mais importantes de seu país. E, quando se fala de concurso de beleza, vocês já podem imaginar de qual padrão estamos falando: mulheres magras, cintura fina, manequim 36 – 38. Não que essas características estejam no regulamento como pré-requisito para se candidatar a ser Miss (assim como não estavam no Garota Verão), mas a gente sabe bem como funciona. Pelo menos, até agora.
Quando Mirella cruzou a passarela, o que se viu foi uma garota linda, confiante, sorridente – mas, diferente das demais candidatas, curvilínea. Com peitão, um pouquinho de barriga e coxas grossas. E linda, vale frisar.
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Nos bastidores do concurso, a candidata contou um episódio de gordofobia que talvez lembre ocasiões que muitas das gurias (e guris! sei que vocês tão aí também!) que lêem o Um Plus A Mais conhecem bem.
— As pessoas me chamavam de gorda e diziam que eu era uma “porca” na universidade, e eu sabia que elas falavam isso pelas minhas costas — revelou a garota, que estuda arquitetura.
— Toda vez que eu via modelos na TV, eu queria estar lá, dentro da tela. Mas eu me sentia intimidada devido ao tamanho do meu corpo e porque eu sofri muito bullying por conta do meu peso — afirmou ao site Fusion.net.
Como a gente pode ver, Mirella não se deixou abater e foi atrás de seu sonho. Por questões de saúde, perdeu alguns quilinhos, mas subiu ao palco, maravilhosa e cheia de curvas. E, como já adiantei lá no início, ficou entre as finalistas do concurso, que chega a sua fase final neste sábado (23).
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E, afinal, por que isso é tão legal?
Por uma palavra que a gente conhece bem: representatividade. Embora não carreguem o mesmo apelo que antes, os concursos de miss ainda ajudam a reforçar a imagem de mulher considerada bela pela sociedade – assim como a televisão, as revistas, a publicidade. Vocês têm noção do que é para uma garotinha gordinha, que sempre se sentiu diferente das amigas magrinhas do colégio, ligar a TV no sábado à noite e ver alguém com barriga e coxa grossa desfilando como candidata a Miss? E, talvez, levando a coroa para casa?
Pura e simples identificação. Se não acaba, pelo menos diminui a ideia de que é só o corpo magro que é belo e merece palmas, faixas e coroas – porque não é. Ajuda a entender que beleza não tem manequim único. Dá uma forcinha para que, da próxima vez que ela se olhar no espelho, se lembre que mulheres com barriga, coxa, bunda e celulite podem ser tão bonitas quanto as de barriga negativa.
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E sério, cada gesto desses é fundamental no processo de aceitação. É algo que as gurias da minha geração não tiveram tanto, e nem se fala das gerações anteriores quando mal se tocava no termo plus size e discutir autoestima ainda era raridade. Cada vez que uma Ashley Grahamposa de biquíni, é mais um passinho e um exemplo para ajudar gurias que estão começando a lidar com o espelho. Ou que estão há anos entre sorrisos e lágrimas.
littlemisssunshineAlô, Little Miss Sunshine!
Ver uma talvez futura miss com manequim além do 36 (ainda que, no caso de Mirella, nem gordinha de fato seja, só mais curvilínea do que as demais candidatas) pode até não fazer você dar um sorriso ao olhar para seus pneuzinhos, mas vai te lembrar que tê-los não faz com que você seja alguém pior. Te faz alguém que usa calça jeans maior, e só.
Talvez isso explique a reação de Mirella ao descobrir que estava na fase final do concurso. Abraçada à organizadora, Jessica Newton, que levou a coroa em 1987, a adolescente e vários outros jurados não seguraram as lágrimas. E nem precisa dizer o porquê, né?
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Pelo Facebook, Mirella agradeceu o carinho dos fãs, que se emocionaram com a vitória:
— Não paro de chorar. Deus põe anjos anjos nas nossas vidas que as mudam por completo. Obrigada Jéssica Newton por tudo. Obrigada a minha família e amigos por tanto carinho e por torcerem por mim. Sábado darei o meu melhor. Vou surpreender o público e quero colocar a coroa.
A gente aqui também tá torcendo muuuito para você levar a faixa, gata! Vai, Mirellaaaa!
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 http://revistadonna.clicrbs.com.br/umplusamais/2016/04/22/por-que-uma-mulher-plus-size-ser-finalista-do-miss-peru-e-tao-empoderador/